Maurício Abdalla* para Adital -
05/10/2010
"Marina,
morena Marina, você se pintou" - diz a canção de Caymmi. Mas é provável,
Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante, ecológica
e socialmente comprometida com o "grito da Terra e o grito dos
pobres", como diz Leonardo.
Dizem
que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é certo
neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de
pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito
a escolhas partidárias?
Mas
ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela
causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as
verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos
financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha
não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o
governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as "famiglias" que controlam a
informação no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também
quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.
Mas
a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo
água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu
apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua
candidata. Mas "os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da
luz". Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para
levar o tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.
Marina,
você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. "Azul
tucano". Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto
aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios
de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais
se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e
nossos inimigos viscerais.
Mas
a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa de
propagar a "vitória da Marina". Não aceite esse presente de grego.
Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra
quem ela se dirige.
"Marina,
você faça tudo, mas faça o favor": não deixe que a pintem de azul tucano.
Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam
acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem
que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você "tanto
faz". Que os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a
façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande
no país cuja maioria vive na senzala. Não deixe que pintem "esse rosto que
o povo gosta, que gosta e é só dele".
Dilma,
admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas, Serra o é de nossos mais
terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos paparicos da
elite brasileira e de seus meios de comunicação. "Marina, você já é bonita
com o que Deus lhe deu".
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